Nossos olhos se cruzaram. Um arrepio gelou meu corpo inteiro. O menino também parecia surpreso em me ver. Ele era o menino que me ajudou no corredor... ele era o vulto. Começou a caminhar em direção a minha carteira e deu um sorrisinho de canto. Corei. Ele em pé e eu sentada tive que levantar minha cabeça para olhar para ele e ele abaixar a dele para olhar para mim.

-Nos encontramos de novo - Ele disse e apoiou as mãos na beira da minha carteira.
-De novo depois de uns 15 minutos você quer dizer - Brinquei e ele fez o mesmo.
-Ahh, pare. Deve fazer uma hora já! - Ele disse e eu fingi ter ficado brava.
-Err... - comecei, achando um jeito de saber o que eu queria - ...até agora eu não sei o seu nome.

Ele fez uma cara de quem não estava entendendo, mas em um segundo a desfez.

-Ahh sim! Meu nome é Peter - Estendeu deu a mão para que eu o cumprimentasse.
-Amanda - Me apresentei, cumprimentando-o.
-Muito prazer, Amanda.
-O prazer é...

Fui interrompida e lancei o olhar instantaneamente para a voz.

-Muito bem alunos, vamos lá, sentem-se todos, vamos começar a aula - disse o professor, pegando o giz.

-...Meu - terminei minha frase.
-Acho que é melhor eu ir me sentar.
-É - concordei.
-Tchau - ele saiu


Eu já estava sentada e não tinha nada ainda no quadro, pois o Sr. Becker estava lendo no caderno oque ele iria escrever, então eu apoiei a minha cabeça na minha mão para não parecer tão nervosa quanto eu estava. Eu não sabia quem ele era, bem... sabia o nome, mas oque ele fez no corredor foi totalmente... totalmente... uma coisa que um menino qualquer não faria.

Um ruído que o giz fez no quadro espantou todos os meus pensamentos e fez todas as meninas (e eu) darem um gritinho e os meninos apertarem os olhos. Vi que o professor de história estava começando a passar a matéria. Ele escreveu uma palavra no meio do quadro.

-Alguém sabe oque é isso aqui? - Perguntou o Sr. Becker.

Olhei para trás para ver se alguém tinha levantado a mão. Ninguém. O professor havia escrito um nome de alguma tragédia que teve, não sei.

-Ninguém? Ok. - O Sr. Becker começou a explicar - Isso aqui foi o primeiro ataque terrorista que houve em nossa cidade, foi há 587 anos atrás. Era homens vestidos com uma roupa preta que cobria o corpo inteiro, uma capa roxa e um capuz roxo por dentro e preto por fora, assim não dava para ver o rosto deles.

Comecei a ficar interessada. Mudei a minha posição na cadeira e o professor continuou:

-Essas pessoas explodiriam quase a cidade inteira sem uso de armamento ou coisas da época. Ninguém sabe quem eles são até hoje e não sabem como fizeram para explodir nossa cidade. Por pouco, alguns conseguiram sobreviver e transformar toda aquela destruição nisso aqui onde estamos. Mas de uma coisa nós sabemos.

Me aproximei mais da minha minha carteira.

-Alguns pesquisadores e historiadores acreditam - o Sr. Becker continuou - que aquelas pessoas vestidas com capa e capuz estavam atrás de um pesquisador curioso chamado Jacques Beaumont. Porém, outro detalhe: também não sabemos oque ele tinha que os homens de capuz tanto queriam. Depois do ataque, nem ele, nem a casa, nem nada que o pertencia foi encontrado. A não ser o filho dele Jacob Beaumont (derivado de Jacques), que com os conhecimentos que adquiriu com o pai, ajudou a salvar cidade das criaturas encapuzadas. Por isso, nossa cidade se chama Beaumont. Mas depois disso nunca mais ouviram falar do menino.

As pessoas falavam sobre o assunto entre si fazendo a sala virar uma bagunça.

-Gente! Gente! Silencio. Isso não é comprovado! - O professor tentou controlar a sala - Mas é bom que saibam disso.

Ele foi até a sua mesa, pegou um monte de papeis e foi entregando de mesa em mesa. O sinal tocou e antes que os alunos se retirassem ele falou:

-Para casa quero que vocês pesquisem sobre Jacques Beaumont e tragam pra mim na próxima aula.

Peguei minha mochila e coloquei só uma das alças no ombro. Olhei pra trás para ver Peter saindo, mas ele não estava mais lá. Estranhei isso, mas deixei de lado. Virei para frente.

-AHH! - Gritei - Peter? Err... Você tava lá trás e... apareceu aqui... de repente... - Gaguejei.
-Não, eu... Estava falando com o professor - Peter respondeu.
-Eu não te vi.
-Bom, vamos indo pois já é o recreio - Ele mudou de assunto e começou a caminhar em direção à porta, pensando que eu iria com ele, mas eu permaneci parada.
-Peter - eu disse e ele se virou - eu tenho que esperar uma amiga, prometi que ia encontrar com ela.
-Ahh, claro. Te vejo depois.
-Tchau.

Peter foi saindo. Não sei oque que me deu que eu fiquei olhando as costas dele, o moletom azul... Ele foi chegando mais perto da porta e eu continuei olhando, nem me lembrava do que estava fazendo. Mas eu caí na real quando ele se virou... e eu com aquela cara de idiota olhando fixamente pra ele. Sacudi minha cabeça e tentei disfarçar. Coloquei a mão no cabelo, erguei um pé e olhei pra parede com um sorrisinho. QUE DROGA! Quem ergue um pé, põe a mão no cabelo e fica paquerando uma parede? Vi com o canto do olho que ele estava dando uma risadinha baixa.

-Você está bem?
-Err... Estou, é que... É um desafio de equilíbrio que eu vi umas pessoas fazendo - Dei uma risadinha forçada.
-Tchau - Ele disse rindo.
-Tchau - eu disse envergonhada.





Encontrei Sarah no corredor. Cobri o rosto com as mãos quando eu a vi.

-Oque aconteceu, Amanda?
-Morri de vergonha hoje - Respondi.
-Oque houve?
-Bom para você entender vou ter que te contar oque aconteceu quando eu fui pegar água para limpar o auditório.
-Ta - Ela abriu um sorriso.

Contei a mesma história que contei pra Matthew e a parte sobre Peter. Ela ficava rindo sobre a parte em que eu paguei mico e cobria a boca com as mãos.






Esperei até o fim das aulas. Estava louca para ir para o estúdio dançar. Fui até o meu armário e peguei minha sapatilha de ponta e meu collant com renda. Fui caminhando mesmo até o local onde eu fazia ballet. Cheguei e vi o estúdio vazio. Entrei. Fui até o vestiário e vesti minha roupa. Vi milhões de cópias minhas no espelho. Eu olhava para o meu reflexo e começava a me aquecer. Coloquei a sapatilha e comecei a me expressar através de piruetas e mais piruetas. Saltos e mais saltos. Música após música.



Até que.........